O que o neurologista faz? Tontura no consultório
Um caso de tontura contínua
Milena (nome fictício) tem 57 anos e é professora universitária na área de engenharia. Há cerca de 2 anos tinha notado que estava caminhando com menos segurança. Achava que isso era culpa de uma labirintite que já lhe incomodava há alguns anos. Mas, com o tempo, começou a achar estranho! Antes, a tontura vinha em de repente e passava logo, mas nos últimos dois anos, se tornou uma constante. E pior: vinha piorando progressivamente. Também, percebia que a tontura era diferente da que tinha antes: era mais um desequilíbrio e menos a sensação do mundo rodando. Depois de alguns meses de resistência, finalmente decidiu procurar consulta com um neurologista quando teve uma queda em casa.
Diferentemente do casos que vão para o pronto-atendimento, habitualmente as pessoas que chegam ao consultório do neurologista por tontura ou desequilíbrio estão sofrendo da queixa há mais tempo. Como a sra. Milena, muitas vezes, elas demoram para procurar ajuda. Frequentemente só procuram depois de um evento mais sério como queda (uma ou várias vezes) ou por insistência de pessoas próximas.
Tontura: um nó para o Neurologista destrinchar!
A consulta neurológica nesses casos é bem abrangente. O médico delimita o início do quadro, mapeia como foi a sua progressão e define as características exatas da tontura ou do desequilíbrio. Também anota e analisa toda a história clínica do paciente e quais os remédios que estava tomando desde a época do início dos sintomas até a consulta. Além disso, revisa todos os sistemas do corpo e as funções do sistema neurológico. Para concluir, examina o paciente e executa o exame neurológico completo, com uma ênfase especial no equilíbrio, no andar e na função do ouvido interno.
Existem muitas causas de tontura (futuramente falaremos das principais em um post) e o neurologista considera todas elas na consulta. Habitualmente, solicita exames de sangue e uma imagem do cérebro para auxiliar no diagnóstico. A depender da queixa, também solicita exames do coração, da circulação e do aparelho auditivo.
Ao sair do consultório, o paciente recebe uma receita para o tratamento da tontura. Também recebe recomendações de cuidados em casa e no trabalho. Frequentemente, o neurologista precisa mexer com algum dos medicamentos do paciente, já que muitos podem causar tontura. Muitas vezes, a queixa de tontura requer um longo acompanhamento pelo neurologista após a consulta inicial.
Na primeira consulta, o neurologista perguntou para a dona Milena sobre outros sintomas motores. Ela respondeu que percebera que estava mais lenta nos últimos anos e que, de tempos em tempos, tinha uma certa dificuldade de se levantar depois de sentada por muito tempo. Também lembrou que nos últimos 3 anos começou a perceber um pequeno tremor na mão direita, que só vinha quando estava parada. Quando examinou, o neurologista notou que a sra. Milena tinha a musculatura levemente rígida no lado direito.
Fez exames para afastar outras doenças e fez um teste terapêutico com um medicamento para Doença de Parkinson. A paciente teve uma grande melhora de todos os sintomas, incluindo a queixa de tontura. Com isso, a paciente recebeu o diagnóstico de Doença de Parkinson e continuou o tratamento com o neurologista por muitos anos.
(Relatei esse último caso para ilustrar que a tontura pode estar presente em inúmeras situações, incluindo a Doença de Parkinson. Existem outras causas mais frequentes de tontura.)
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No próximo próximo post falaremos sobre a atuação do neurologista na queixa de tremor. Até logo!