O que o Neurologista faz: AVC
“Carlos era um homem independente, trabalhador e que tinha uma rotina agitada. Tinha 55 anos, mas trabalhava como alguém de 30. Não costumava frequentar muito o seu médico, mas já chegou a ter um diagnóstico de hipertensão e colesterol alto. Certo dia, quando terminava sua arrumação para o trabalho, teve um mal estar e desmaiou. Acordou segundos depois, e quando percebeu, não conseguia falar e nem mexer o lado direito do corpo. Por sorte, a esposa ainda não havia saído de casa e o levou imediatamente para o hospital mais perto, onde foi atendido imediatamente pelo neurologista. “
AVC: o pesadelo de muitos
Talvez um dos eventos mais críticos que alguém pode vivenciar em si mesmo ou em alguém próximo é o AVC. A cena se repete diariamente nas emergências mundo afora. Uma pessoa que, até então, era independente se vê com parte do corpo paralisado ou incapaz de andar, de uma hora para outra. O pior é que na maior parte das vezes não tem qualquer aviso: simplesmente acontece.
Até um tempo atrás, ter um derrame (que era o nome pelo qual o AVC era chamado) era sinônimo de morte ou sequelas graves. Se você for olhar as causas mais comuns de óbito no Brasil e no mundo, observará que o AVC encontra-se no top 3! E antigamente a situação era difícil, pois não havia o que fazer! A vítima era internada no hospital para ser observada, mas a equipe médica ficava impotente pela falta de tratamentos que melhorassem claramente a evolução do quadro.
A esperança da Neurologia
O que muitas pessoas ainda não sabem é que esse panorama mudou radicalmente nas últimas décadas! Primeiro descobriu-se que um medicamento, chamado de trombolítico, que foi desenvolvido inicialmente para tratar de casos de infarto do miocárdio, poderia ajudar muito esses pacientes. Descobriram que esse medicamento pode reduzir bastante a quantidade de sequelas de um AVC, se usado para o paciente certo e no momento certo.
Mais recentemente, os neurologistas foram ainda mais longe! Além do tratamento para dissolver o trombo, acrescentaram um segundo tratamento ainda mais eficiente, que é chamado de trombectomia mecânica. É feito com ajuda de um dispositivo muito sofisticado, que, por meio de um cateterismo, chega nas artérias de dentro do cérebro e consegue sugar o trombo inteiro, protegendo ainda mais a pessoa de sequelas graves. Descobriu-se que esse tratamento é ainda melhor do que o trombolítico.
Um tratamento delicado requer um profissional especializado
Agora, existe o outro lado da moeda: o tratamento do AVC pode causar problemas mas sérios se não indicado corretamente. O mais sério é a hemorragia cerebral. Várias coisas devem ser levadas em consideração, como, por exemplo, o tempo desde o início dos sintomas, a idade do paciente, os medicamentos que ele toma, as doenças associadas que tem, o nível de independência, entre muitas outras. Também tem que saber examinar o paciente de forma rápida e precisa e avaliar os exames de imagem. Por ver centenas de casos semelhantes ao longo da carreira, o único profissional verdadeiramente capacitado para fazer esse tratamento é o Neurologista clínico!
E a coisa não para por aí. Após o tratamento inicial, o paciente ainda precisará ficar internado em observação por alguns dias, precisa fazer uma série de exames para investigar a causa do AVC e, finalmente, precisa de um tratamento para impedir que o problema se repita.
Depois de sair do hospital …
Também, como é comum algum grau de sequela permaneça, depois da alta é necessário ainda que o neurologista acompanhe a evolução neurológica e supervisione o processo de reabilitação. Mas aí, esse assunto fica para uma outra conversa!
“Como Carlos foi levado rapidamente para o hospital, houve tempo para o Neurologista de plantão iniciar o trombolítico e ainda houve indicação para trombectomia mecânica. Tudo ocorreu sem problemas! Após 1 semana do tratamento, o paciente tinha ficado somente com uma perda leve de força e a fala tinha melhorado quase 100%. Carlos continuou acompanhando com o neurologista nos próximos anos, tomando medicação profilática e voltou a ter uma vida normal.”