É uma honra inaugurar a sessão de Posts de Convidados do BlogScientia com um texto interessantíssimo de uma pessoa que foi sempre um mentor para mim e um modelo de médico a quem me espelhar. O Dr. Heitor de França Borges é médico Nefrologista com atuação em Curitiba, com uma história profissional brilhante e uma prática exemplar. Ele traz reflexões instigantes sobre a ansiedade, que é um dos maiores desafios dos tempos modernos. Apreciem! (Conrado Borges)

Ansiedade (Dr. Heitor de França Borges)

A ansiedade é uma resposta do corpo a uma ameaça não identificada ou subjetiva. O medo excessivo em relação a dificuldades futuras, ou o desejo desmedido de satisfação ou resultados que ainda não se podem desfrutar, pode desencadear o transtorno chamado ansiedade.

     Ficar ansioso, de vez em quando, é normal. Porém, quando a ansiedade é desencadeada por uma suposição ou fantasia, instala-se a patologia. O estado crônico de ansiedade paralisa e chega a destruir os mecanismos de ação saudáveis do corpo, com efeitos prejudiciais para a mente.

    O sistema de ansiedade é um dos processos de autopreservação do ser humano, o qual perde sua finalidade se começar a soar sem motivo específico. Como o perigo não existe concretamente, o ansioso está fadado a sofrer sem objetivo real, porque padecer por antecipação cria inúmeros inconvenientes como a angústia da espera ou nervosismo crônico sem motivo justificável.

   As pessoas que apresentam ansiedade podem limitar seriamente suas vidas, até chegar a um ponto em que atividades comuns são pautadas pela dor e lutas internas para fugir da contrariedade permanente. Não entendem que a vida sempre apresenta situações objetivas e reais que se chocam com o nosso desejo de que as coisas fossem diferentes.

   O psiquiatra espanhol Enrique Rojas diz que o homem precisa definir princípios fortes que guiem suas decisões. Se forem éticos e bons, a vida será assim. Se forem insossos e fracos, corre-se o risco de fundamentar a vida em suposições, e sofrer com a ansiedade.

   Acrescenta que, atualmente, as pessoas estão repletas de coisas materiais, mas, interiormente, vazias de valores morais e éticos, tornando-se presas fáceis para a ansiedade.

   O organismo sofre e responde à ansiedade pelo aumento dos batimentos cardíacos, aumento da frequência respiratória, e aumento, ou às vezes  queda, da pressão sanguínea. Os sentidos ficam alertas e a adrenalina circulante em níveis aumentados prepara o corpo para a luta. Para garantir que nenhuma energia se perca, o corpo responde com esvaziamento do sistema digestivo. As cargas extras de hormônios que são liberados causam curtos-circuitos nas células do cérebro. A memória perde o contexto e fica fragmentada.

   Para deter o processo de ansiedade, existem inúmeras iniciativas, como medicações ansiolíticas, antidepressivos, e a psicoterapia cognitiva. Outras técnicas que podem ajudar são os exercícios de respiração, meditação, relaxamento e mudanças no estilo de vida.

   As mudanças no estilo de vida englobam o planejamento dos momentos de descanso, a higiene do sono, e cuidados na ingestão de alimentos energéticos, como café, chá, chocolate, carnes vermelhas, gorduras e álcool.

   Outra medida importante para o controle da ansiedade é aquela que visa o caminho do auto-conhecimento, procurando viver o presente, não se deixar levar pelo consumismo, desenvolver a maturidade necessária para tolerar o sofrimento e a frustração, e ver nos momentos de crise as oportunidades para desenvolver outras capacidades.

   É preciso saber que o “tempo” não é mais do que uma ilusão ocasionada pela sucessão de nossos estados de consciência, e que a divisão do “tempo” conhecida por “presente” é a sensação momentânea que temos da realidade transmitida por impressões e percepções aos nossos sentidos, à medida que passam da região ideal do “futuro”, à região da memória denominada de “passado”.

   Essa realidade momentânea precisa ser reforçada com permanente equilíbrio, ponderação, espírito de gratidão, compreensão, amor, aceitação, fortaleza e fé, para não cair no “será” do futuro e também no “foi” do passado, que trazem o desequilíbrio.

   Também é essencial estar ciente e preparado para não querer afogar a ansiedade com comida, álcool, drogas, ou qualquer comportamento compulsivo. Deve-se praticar exercícios físicos regulares, os quais ajudarão a direcionar a energia acumulada. O compromisso de procurar aumentar a fé e os valores morais irriga o solo da paz interior.

“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho” (Gandhi). 

Heitor de França Borges

Médico Nefrologista
Mestrado e doutorado pela Escola Paulista de Medicina
Fellowship em Nefrologia e Pesquisa na Minnesota University
Residência médica pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP)
Graduação pela UFPR

2 comentários em “Ansiedade – Dr. Heitor de França Borges”

  1. pedro vicente michelotto

    Excelente matéria sobre a ansiedade que afeta grande parte da população mundial – Dr. Heitor além de excelente nefrologista é um grande amigo e suas orientações para combater ou conviver com menor grau de ansiedade são excelentes.

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