O que o neurologista faz? – Esquecimento (perda de memória)

Uma pergunta que as pessoas costumam a fazer é o que um neurologista faz. Pensando nisso, estou construindo esta série de posts detalhando o papel do neurologista nos cuidados das principais queixas neurológicas.

Um caso de esquecimento

Sofia (nome fictício) é uma mulher de 49 anos de idade. É  uma empresária de sucesso e mãe de uma menina de 12 anos. Tem um casamento feliz e está começando a colher os frutos de todo o seu esforço duro. Durante sua vida, passou por vários desafios, mas sempre conseguiu dar conta do recado.

Mas, há algum tempo, algo inesperado passou a lhe incomodar. Nos últimos dois anos tem percebido que não rende mais tanto quanto antes. No trabalho, tem demorado tempos cada vez maiores para fazer tarefas simples que antes cumpria com o “pé nas costas”. Em casa, tem se pegado repetindo várias vezes a mesma pergunta. Fica triste quando não consegue lembrar de detalhes da viagem que fez com sua filha há 6 meses. Às vezes se pergunta se não está ficando burra.

Inicialmente achava que tudo ia se resolver sozinho. Mas não! Até piorou! Algo precisava ser feito logo! Por esse motivo procurou pela primeira vez um neurologista.

Quando a pessoa tem problemas de memória

A segunda queixa neurológica que iremos discutir aqui é um tema muito especial para mim: o esquecimento. A memória e as funções neurológicas superiores têm me fascinando desde a adolescência. Minha formação neurológica teve um foco especial nessa área e, por isso, é um prazer falar sobre ela.

Queixas de esquecimento são comuns no consultório do neurologista. Como no caso da sra. Sofia, o quadro comum é de uma pessoa que começou a perceber que a sua memória vinha piorando recentemente (geralmente por meses a anos) e isto está lhe tornando cada vez mais preocupada. Há situações em que pessoas próximas perceberam o problema e incentivaram a procurar ajuda. Em alguns casos a queixa é tão significativa que atrapalha a pessoa nas suas atividades habituais.

O perfil de idade mais habitual para essa queixa é de pessoas acima de 55 anos, mas também é comum em pessoas mais jovens, como a sra. Sofia. Não há muita diferença entre homens e mulheres (pesando um pouco mais para o lado das mulheres). 

Esquecimento: como é a consulta com o neurologista?

Quando o neurologista recebe uma pessoa com esquecimento, primeiro ele traça uma linha do tempo desde o início dos sintomas até o momento da consulta, analisa as circunstâncias em que começaram, se houve momentos de melhora ou piora, se tem outros sintomas, se tem outras doenças, que medicamentos ela toma e se tem história de “esquecimento” na família.

Também analisa junto com o paciente como o esquecimento se manifesta. Isso é muito importante, pois é comum que usemos os termos “esquecimento” e “perda de memória” para vários tipos de problema cognitivo. 

O que é cognição?

Cognição é um termo que reflete as várias formas do cérebro processar informação e transformar em conhecimento. A memória é uma das funções cognitivas, mas existem muitas outras, como atenção, raciocínio lógico, controle de impulso, percepção visual e linguagem. Sim! A linguagem também é um domínio cognitivo! Entender com detalhes quais desses domínios cognitivos estão envolvidos é essencial para chegar ao diagnóstico correto e para poder indicar o melhor tratamento possível.

Além da entrevista, o neurologista aplicará alguns testes básicos para procurar alterações mais grosseiras nas funções cognitivas da pessoa. Os mais usados são o Mini-Exame do Estado Mental e o Inventário Cognitivo de Montreal (MoCA). Também outros testes mais aprofundados podem ser necessários já no consultório. Normalmente o teste (que chamamos teste de triagem) é normal em pessoas com queixas mais leves. Mas já acusa o problema em pessoas com queixas mais graves.

Queixa de memória: o diagnóstico

Com todas as informações da primeira consulta na mão, o neurologista fará uma análise inicial. Já terá uma ideia das hipóteses diagnósticas, mas normalmente a investigação não para por aí.

É comum solicitar uma bateria de exames para descartar causas tratáveis de alteração cognitiva (falaremos mais sobre essas causas em outro post). Os principais são exames gerais de sangue, pesquisa de vitamina B12, hormônio da tireoide e algumas doenças infecciosas que podem atingir o cérebro. Um  exame de imagem do cérebro frequentemente também é necessário.

Além disso, na maioria das vezes, uma avaliação cognitiva mais profunda ajuda. Isso é feito por meio de uma Avaliação Neuropsicológica. Outros exames mais específicos podem ser solicitados na primeira consulta, mas variam de caso a caso.

No retorno, depois de avaliar os exames, o neurologista trará uma hipótese diagnóstica mais concreta e uma proposta de tratamento.

É importante dizer que, quando tratamos de queixas cognitivas, o diagnóstico depende muito da evolução do paciente e frequentemente não é dado nas primeiras consultas. Dessa forma, o acompanhamento é necessário em praticamente todos os casos.

Série de posts: atuação do neurologista

Dr. Conrado Borges - ExcellereNeuro


Dr Conrado Borges

Médico Neurologista (CRM/SP: 186462)

6 comentários em “O que o neurologista faz? – Esquecimento (perda de memória)”

    1. Dr. Conrado Borges

      Olá! Muito obrigado pelo interesse! Infelizmente não aceito convênios para poder manter uma consulta com o tempo e a qualidade necessários. Em alguns casos os convênios reembolsam!

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